sábado, 24 de novembro de 2012

A carta, de Eduardo Galeano

Enrique Buenaventura estava bebendo rum numa taverna de Cali, quando um desconhecido se aproximou da mesa. O homem se apresentou, era pedreiro de ofício, perdoe o atrevimento, desculpe o incômodo:
- Preciso que o senhor escreva uma carta para mim. Uma carta de amor.
- Eu?
- É que me disseram que o senhor sabe.
Enrique não era um especialista, mas inchou o peito. O pedreiro explicou que não era analfabeto:
- Eu sei escrever, isso eu sei. Mas uma carta assim, não sei.
- E para quem é a carta?
- Para... ela.
- E o que o senhor quer dizer?
- Se eu soubesse, não precisava pedir.
Naquela noite, pôs mãos a obra.
No dia seguinte, o pedreiro leu a carta:
- Isso - disse, e seus olhos brilharam. - Era isso mesmo. Mas eu não sabia que era isso que eu queria dizer.



A carta, de Eduardo Galeano

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