sábado, 17 de março de 2012

Hoje passaria toda a noite olhando para o céu.

Hoje passaria toda a noite olhando para o céu.
Pois tudo parece tão triste.

A noite toda, olhando para o céu.
Pois a tristeza vem tão forte quanto a antecessora alegria.

Olhando para o céu.
E pensando. Talvez alegrias menores gerem tristezas menores.

Olhando.
E apenas sentindo.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Instantes.

    Descobri por que eu gosto de futebol. Não de torcer, isto eu nunca entendi (só se explica com uma palavra: paixão). De jogar.
    Até hoje eu achava que era só pela adrenalina, por aquele cansaço prazeroso, de gosto de missão cumprida. Só hoje, depois de perceber que provavelmente nunca vou jogar novamente, compreendi o que sempre me fez tão bem.
    Durante o jogo, e até na certeza de que virá o jogo seguinte, se aprende sobre a vida. Ou eu aprendia. Se aprende sobre erros que tem consequências, e também aqueles que acabam por não resultar em nada. Se aprende o sabor de alcançar o que se deseja. Se aprende que o próximo lance (ou o próximo jogo) sempre será uma chance de melhorar, de se superar, de superar outros e inclusive de ensinar algo que já se aprendeu em outros lances e jogos. Nunca fui dos mais habilidosos, mas sempre dos mais dedicados. E assim sou com a vida. Ainda não sei se jogava assim por causa da vida ou vivo assim por causa do jogo. Hoje eu apostaria na segunda opção.
    Já tive câncer. Algumas pessoas me elogiam pela minha paciência e resignação no tratamento. Percebi que aprendi a encarar assim em todas as vezes que me machuquei jogando bola. Abraço da mãe na dor, fala do pai me proibindo de desistir quando pensei nisso. Do mesmo jeito que tem vezes que parece melhor desistir de tudo.
    Mas isso tudo não é o motivo de eu ter iniciado este escrito. Quando se joga futebol, por alguns instantes, por mais insignificante que seja, tudo permanece suspenso. Todo o resto é colocado em um plano abaixo da quadra ou do campo. A bola está rolando até o pé daquele atacante que se sabe que não vai errar; o teu lançamento está chegando ao companheiro de time; o chute está indo até o alvo certo; o amigo que quase nunca acerta está fazendo um golaço. É difícil encontrar este sentimento na vida, pois na vida ele só é possível por motivos muito mais nobres: quando atingimos um objetivo de anos; quanto percebemos que fizemos algo bom para alguém; quando percebemos que estamos apaixonados; quando aprendemos algo novo e bom; quando alguém grita ação e o ator se torna outra pessoa, o cenário e o figurino estão bonitos e a luz perfeita.
    Este sentimento que é tão fácil e rápido no futebol, é difícil e tão rápido quanto na vida, porém, a facilidade que se encontra ele no futebol faz com que seja mais difícil esquece-lo. Coisa que é fácil de acontecer na vida. Vivem tristes aqueles que esquecem.
    Repetindo: falo de quando todo o resto parece estar em um nível mais abaixo. Nos sentimos leves e o olhar se fixa em um único ponto. Algo como quando nos apaixonamos e olhamos fixamente para o sorriso da outra pessoa, ou quando uma música faz todo o sentido e só conseguimos olhar para o cantor e gritar junto. Isso acontece em todos os jogos de futebol. Perceba, em algum instante, rapidamente, um dos jogadores estará com os olhos brilhantes e fixos.
     Tentei jogar de novo, faz menos de uma semana. Meus joelhos não me deixaram passar da terceira corrida. Doeu e chinguei os remédios que provocaram o problema neles. Mas nas duas corridas completadas e em alguns lançamentos enquanto fiquei como goleiro, senti.
Se nenhuma outra solução aparecer, não vou poder aceitar a dor em troca de uma partida de pelo resto da vida. Por isso, acho que nunca mais vou jogar. Mas vou tentar não esquecer esses instantes.